Quem liga para prêmio?

Oscar, Cannes, Profissionais do Ano, Colunistas, Abril, Nobel, Pulitzer, e assim vai.
Parece que o sucesso dos prêmios está no fato de que tão bom quanto ganhá-los é criticá-los. Lamentar as injustiças, questionar os critérios, indignar-se diante os lobbies, maldizer o mercado a ex-mulher e o carnaval. Passionalmente, esvaziar nosso veneno no primeiro que puxar assunto.

"Durante muito tempo acreditei que o meu trabalho não deveria ser avaliado sómente a partir de prêmios. Claro que mudei de idéia depois das primeiras medalhinhas."
Não tenho certeza sobre a autoria do magistral aforismo, provavelmente, pelo estilo, foi o mesmo que afirmou: "Nunca acreditei em portfólios até ter um decente."
Se eu não me engano, até é dele o sábio conselho: "Se sua gaveta está cheia de idéias, está na hora de mudar de agência. Mas não descarte a idéia de mudar de profissão."
Muito diferente do estílo agressivo da afirmação do Gil: "Se você é tão bom assim, o que está fazendo nessa agêncinha".
Ou do desiludido Peter: "Existem formas mais fáceis de pagar o aluguel."
Não dá para ignorar que o mercado faça injustiças verdadeiras que geram esse tipo de máxima: "Criativo é aquele que ganha o dobro do que você fazendo a metade." Do Joca.
Mas são os ponderados, como a Bel, que mantêm o norte: "Não faça brain storm em copo d'água."

E quem nos ressuscita do são os bem humorados, como o Maneco: "Se título longo é menos lido do que um curto. Então, se for ruim, é melhor que seja longo."
Voltando ao assunto, nada como um clima de competição para atiçar os sentimentos nobres e os mesquinhos do nosso mundinho de cola e fita crepe. Tem o lado "bussiness", a responsabilidade de criar um movimento no mercado, de registrar a performance das agências, traçando um mapa de referência para o mercado. Na verdade, é isso que importa. É isso que todo ano desenha o ano seguinte.

Mas o lado divertido está longe do aspecto "bussiness": o boato, a torcida, a fofoca, é por aí que circulam nossos egos. Transitando pelo telefone, internet, fax e por outras mídias menos covencionais. Egos lobistas, às vezes equivocados, mas legítimos.

Inscrições, fichas técnicas, reuniões. Um herói para coordenar todas as ações e um estagiário montando as pranchas. "Precisa comprar mais cola", adverte. "Cuidado para não cortar o dedo", alguém o previne.

Enquanto isso, Cobrões chacoalham os guizos na ponta das caudas. Conversam, discutem, consultam-se, tudo discretamente, como a natureza da missão pede. Aparentemente todos estão calmos, com excessão do nosso herói que não consegue descobrir quem foi o diretor de arte que fez aquela peça - que por ele nem deveria ser inscrita -, só falta isso.
Tudo pronto, a partir desse momento, os dias são de tranqüilidade fingida, de torcida muda, de falsa modéstia, de guerra fria. Legal demais.
De repente os ciber-sinos começam a anunciar a hora da verdade via internet.
"Esse ano não deu"
"Também, estou começando."
"Já era esperado."
"Yes"
"Prata, mas merecia ouro"
"Hiiiuuhoo!"
"Quem liga pra prêmio? "

Fevereiro de 2001
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