Operário do século

Até março estará no Guggenhein Museum de Nova Iorque a mostra "Norman Rockwell: pictures of American People". O evento reúne 70 quadros a óleo e 322 capas da revista The Saturday Evening Post, onde o artista trabalhou por quase cinco décadas. Essa é a maior mostra da obra de Rockwell desde a sua morte em 78 e percorreu o país em dois anos passando por Atlanta, Washington, Chigago, Phoenix, San Diego e Stockbridge, cidadezinha em Massachusetts onde fica o museu do artista.

A exposição foi aberta no meio de novembro ainda sob a compulsão patriótica pós "september eleven". Talvez por isso, grande parte do que saiu a respeito da mostra faz muita referência a inigualável capacidade de Rockwell de traduzir o patriotismo agudo que acomete a América desde sempre.

Prova disso, um trabalho que está na mostra, intitulado "Liberdade do Medo", publicado no Saturday Evening Post depois de ter sido recusado pelo Bureau de informação de Guerra em 43, foi espontaneamente destacado das páginas da revista e colado nas janelas pelos leitores. Posteriormente, uma turnê do original pelo país ajudou a arrecadar mais de cem milhões de dólares em Bônus de Guerra.

Rockwell, provoca até hoje, o desdém dos críticos que se recusam a colocá-lo ao lado de seus contemporãneos mais ilustres. Bem como, defesas apaixonadas dos que vêem nele um fotógrafo sensível da alma americana. Inspira paixões antagónicas justamente porque a expressão da sua obra é muito maior que a ideologia cor-de -rosa contida nos seus temas ou no semanário para o qual trabalhava. Vendido ainda hoje como: "America's favorite coffee table magazine for generations."

Foi um típico modelo de artista operário do século XX, produziu mais de 4 mil originais, 800 capas de revista e campanhas publicitárias para mais de 150 marcas. Casou duas vezes, teve três filhos. Ralou um bocado. Quando questionado sobre as quatro telas de um metro e pouco, por noventa centímetros que compunham a obra "As Quatro Liberdades" e que consumiram sete meses de trabalho intenso confessou: " esse trabalho foi muito grande para mim. Deveria ter sido tocado por Michelangelo".

Mas independentemente do espaço negado no mundo das Belas Artes, sua importância para a publicidade é inquestionável, a composição de Rockwell tornou-se a base dos layouts da propaganda americana tradicional ou vice-versa. O importante é destacar que, seu trabalho era comunicação de massa da mais alta eficácia. Não existe publicitário que tenha começado antes da era dos computadores, que não tenha pelo menos folheado algum trabalho seu. Os ilustradores então nem se fala.

Sem escrever uma única palavra, exceto as retratadas e as dedicatórias, talvez tenha sido um dos maiores cronistas americanos do século XX. Sua capacidade narrativa é excepcional. Não é por acaso que outro mestre da narrativa, Steven Spilberg, esteja entre seus admiradores.

Através de uma única cena, é capaz de nos contar uma história com começo, meio e fim. Às vezes, uma piada, um conto. Em outras telas, uma crônica, um verso. Nas melhores, um soneto. Tudo tão americano que quase podemos sentir o cheiro de bacon, é verdade. Mas se levarmos em consideração que trata-se de um nova iorquino não chega a ser incoerente.
Rockwell passou pela depressão, pela guerra, abordou o racismo, retratou crianças e cachorros. Barbearias, estações de trem e cenas de família.

Em Houston, já com idade avançada, acompanhou o treinamento dos astronautas. Chegou a trabalhar com um ilustrator científico para conhecer em detalhes a topografia lunar e criar "Man on the Mon" de 67, registrando dois anos antes, em óleo sobre tela, o primeiro passo do homem na lua.


Links legais para quem não vai a Nova Iorque até março e quer matar a saudade do Norman:

The Norman Rockwell Museum at Stockbridge

Guggenheim Museum

Curtis Center Museum

Janeiro de 2001
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