Não li e gostei

Outro dia o scanner do design pifou - acontece nas melhores agências. O que obrigou o pessoal a usar o scanner da criação. E lá está a Vanessa escaneando um livro e, pouco depois, lá está ela escaneando mais uma página. A gente se cruza na porta, perto da impressora, brinco que aquela aquela história de scanner quebrado é só uma tática para integrar as unidades da agência. Na verdade, não sei por que, estou curioso a respeito do livro que ela carrega. Adivinhando, ela me mostra: Histórias da História da Propaganda no Paraná, acho que o nome é esse, não importa, porque o importante é o autor: Ney Alves de Souza.

Não é que ele fez! Constato surpreso.
Explico: comecei a trabalhar em Curitiba em 1989 devo ter conhecido o Ney ou melhor devo ter sido apresentado a ele, naquela época a cidade era ainda mais cerimoniosa, por volta de 90 no máximo. Posso me enganar, afinal a gente se falou poucas vezes durante esse tempo todo, mais em eventos, com um copinho na mão, aquela coisa e tal. Mas desde de que me lembro, ele alimentava esse projeto.

Para quem vive nesse e desse mercado que já foi apelidado de quitanda, não tanto pelo tamanho dos budgets mas por outras limitações muito piores, levar a cabo essa tarefa é um feito e tanto.

Parece que o projeto gráfico é do Miran, outro vâmpiro de Curitiba que de vez em quando... Opa! Não quero falar da obra, quem sou eu? A propósito, a Vanessa estava escaneando o livro para fazer o convite do seu lançamento, que deve acontecer ainda esse mês.
A intenção aqui é destacar a heróica missão do autor que deve ter, uma vez ou outra, olhado para as provas, mal cheirosas, em couchê amarelado, e perguntado: será que isso vai interessar a mais alguém?

A última vez que ouvi falar desse projeto do Ney eu trabalhava na Mercer, que naquela época estava prestes a desaparecer. Diria que ele apareceu bem a tempo de resgatar uns registros legais da agência, que se não estão todos no livro, estão bem guardados nos seus arquivos.
A cultura publicitária local certamente vai se enriquecer com seu trabalho. E honestamente, espero que o livro contribua também para a formação de talentos, que devem aprender não só com o seu conteúdo. Lembrando que a principal qualidade do trabalho criativo é a obstinação. Que a arte da propaganda, se é que pode ser chamada assim, quando alimentada pela sua própria história tem mais recrusos para realizar o original. Que ousadia é fazer o que ninguém jamais fez.

E que possa atiçar o espírito sonhador dos empreendedores. Servir de referência aos estudiosos ou mesmo de impagável recordação para o mercado, que reconhecerá, nas fotos, os carecas menos carecas, as barbas, os bigodes, as gravatas. Os títulos, a tipologia, a direção de arte. Os ideais e é claro: as idéias. Os falidos, os finados, os últimos e os primeiros.

O dia estava feio mas agora melhorou. Acho que não vamos ter inverno esse ano.

Maio de 2002
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