O tema é bom

Fevereiro de 2006


Há alguns dias, que a essa altura já devem ser semanas, o mercado foi surpreendido por uma manchete curiosa que afirmava que a Ficher acabava da abolir o atendimento da sua operação.

Sendo um pouquinho maldoso, dá até para imaginar o pessoal da criação, em festa, fazendo bundalelê para a humilhada equipe de atendimeto. Ao ler a matéria, entretanto, percebe-se que a alegria da criação durou pouco. “O padrão proposto pela Ficher, continua o texto, é abolir o atendimento passando essa tarefa diretamente para as equipes de planejamento e criação.” Acabou-se a farra, ainda bem que a criação, acostumada a apagar incêndios, consegue extinguir a tempo a fogueirinha alimentada pelos jobs mais urgentes. Prosseguindo, o texto esclarece: “os profissionais do atendimento passarão a compor um núcleo de operações, que ajudarão no gerenciamento das contas no dia-a-dia.” Ou seja, a marcação, no bom sentido, continuará sendo na saída de bola.

Brincadeira à parte, é sempre produtivo quando alguém tenta alguma coisa diferente na operação das agências, de repente dá certo e todo o mercado acaba ganhando com a nova proposta. Notícia já deu. Piadas, com certeza, também vão aparecer. Afinal o tema é bom: Aí, o cliente liga para a agência e pede: Por favor, me passe para o atendimento. Sinto muito senhor - a telefonista responde -, aqui na agência não existe atendimento. Puxa, pensei que só eu é que tinha notado - responde o cliente. Mais uma: Será que quando a criação for jantar com um cliente vai pedir pizza?

Mas, no final, quem vai aprovar ou não a mudança é o onipotente “mercado” - essa entidade colérica e temperamental a quem todas as nossas estranhas decisões são submetidas.

E o que virá depois da agência sem atendimento? Será que surgirá a agência sem criação? Bem, temos que admitir, que essas já existem aos montes. Da mesma forma, as sem-vergonha também não são novidade, mesmo antes do teatro das CPIs.

Seguindo essa tendência de simplificação radical da operação, o formato mais perfeito a que se pode chegar é, sem dúvida, o da agência sem clientes. Modelo dos sonhos no qual a criação poderá se manifestar em toda a sua plenitude: criando para quem bem entender, sem a pressão dos prazos nem as restrições dos briefings. A mídia dispondo de quantos GRPs forem precisos para uma cobertura ideal. E o planejamento colecionando cases e mais cases para as marcas mais interessantes do mercado e, é claro, para a própria agência.

Nessa nova estrutura, a agência será remunerada apenas por resultados. Isso, entretando, não deve dificultar o seu desempenho uma vez que não havendo nenhum diretor de marketing, gerente de produto ou esposa de presidente pondo o dedo no trabalho, o risco será praticamente nulo. Deve-se ter apenas o cuidado ético de comunicar as empresas quando uma nova campanha irá ao ar, para que haja tempo de organizar a produção, distribuição e outros detalhes com os quais os clientes tanto se preocupam. Fica a critério da agência apresentar ou não o trabalho para o marketing da companhia. No entando, a agência se compromete a produzir e enviar o material de ponto de venda para que a empresa otimize seus resultados, bem como a permitir que o representante da marca acompanhe a agência nas cerimônias de premiações que possam vir em decorrência da campanha.

Assim, no ocaso do capitalismo, a propaganda viverá novamente a sua era de glória e a única falta sinceramente sentida será a do atendimento, extinto lá pelos idos de 2006. Nessa época de ouro, contudo, não faltará o reconhecimento da história a esses incansáveis profissionais sem os quais a propaganda nunca teria atingido o seu mais alto nível.


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