Federal 2002

Federal 2002

Eu tive um tio jornalista e boêmio, se me permitirem a redundância, chamado Adoniran de Oliveira. Consta na história da família que seu nome foi emprestado ao colega de bar, no bairro do Bexiga, Adoniran Barbosa - batizado João Rubinato.

Pois bem, Adoniran, o tio Duniro, como era chamado em casa, viveu sua vida de jornalista/boêmio com dignidade; criou suas filhas e honrou sua mulher, tia Lourisse. É claro que a birita causou alguns problemas, mas nunca a ponto de comprometer sua posição social de pai-de-família.

Transtorno muito maior que as suas ressacas, foi a lei que tornava obrigatório o curso superior de jornalismo para o exercício da profissão. Não me lembro exatamente em que ano isso se deu e nem faz muita diferença. O fato é que muita gente além do tio Duniro teve que inscrever-se na Fundacão Casper Líbero e fazer o curso na área em que eram mestres, para assim obterem o direito de trabalharem onde já estavam para se aposentar. "Um absurdo", protestava o tio, com uma dose de razão, e outra da branquinha.

Em propaganda o primeiro curso superior, se eu não me engano, foi da ESPM, depois foi um atráz do outro pelo Brasil afora.Quando estava para prestar vestibular, eu tinha como intenção fazer arquitetura, mas só me interessava a FAU da USP. Só que o primário mal feito agora fazia diferença e tive que obtar por deixar o Niemeyer sem um sucessor a altura. Nessa época eu já trabalhava em propaganda mas os cursos não me atraiam, foi quando o fantasma do tio Duniro começou a me assombrar. "Vai acontecer a mesma coisa com a publicidade: só vai poder trabalhar quem tiver curso superior de publicidade", soprava no meu ouvido. Um golinho pro tio, virava o copo deixando derramar um tantinho da cachaça. "Um absurdo". Tá bom,tio: só mais um golinho. No fim eu prestei vestibular para Psicologia e Belas Artes acabei decidindo cursar a segunda, que bem naquela época, além dos cursos de bacharelado, passava a voltar-se para a formação de professores em Educação Artística, matéria incorporada nos cursos de primeiro e segundo graus. Resumindo a história, formei-me, não sei bem porque, professor de desenho.

E não é que outro dia depois de tanto tempo um outro fantasma começa assombrar essa nova geração com a notícia de que a UFPR "cancelou a oferta de vagas para a habilitação em Publicidade e Propaganda no vestibular de 2002". Curso que para esse vestibular tem 29,63 candidatos por vaga. Haja mercado, para absorver toda essa moçada! Mas isso é outra história.

Não me acho habilitado intelectualmente, nem me considero suficientemente informado para analisar técnica ou politicamente uma decisão desse tipo. Mesmo assim sinto-me constrangido diante dessas cenas bananeiras, que nos colocam distantes da civilizacão de primeiro mundo, com o qual disputamos os Leões mano a mano.
"Um absurdo", está ele de volta, como toda assombração só quer encontrar a paz. Como todo fantasma só descansará quanto se fizer justiça. Um golinho, desculpe tio, só tenho vinho hoje.

O que dizer para essa moçada cheia planos?
Seja qual for o desfecho da novela, saibam que não é mais que isso, ninguém vai deixar de brilhar por que nasceu brasileiro, em Curitiba. Não é assim que funciona.

Enquanto isso os Adonirans cantam lá no céu: "saudosa maloca, maloca querida, dim dim donde nóis passemo dias feliz de nossas vida".

Dezembro de 2000
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