Prêmios, muitos prêmios

Dezembro de 2003

Não há quem não se pergunte de vez em quando: o que estou fazendo aqui? Os mais inquietos já se levantam perturbados com a questão. Dependendo do estado geral da companhia, a dúvida pode assumir dimensões existenciais extremas, levando a pessoa ao desespero.

A situação tende a agravar-se quando, ao olhar para baixo, o outrora assanhado pinguelo encontrar-se eclipsado por uma proeminência abdominal que o condena ao esquecido mundo das sombras.

E essa questão vai ganhando urgência na medida em que o tempo vai diminuindo, matematicamente, nossas possibilidades e invertendo algumas prioridades. Afinal, de que adianta ficar rico depois de perder a juventude ou, a mocidade, quer dizer, a maturidade?

Bem, eu vou deixar a fortuna para o ano que vem, mas não por desistência, por absoluta falta de tempo. Assim como a pousada. E outros projetos secretos.

Quem sabe, o ano que vem, o convite milionário bata à sua porta: Nisan a bordo de um vôo que teve origem em Curitiba apanha uma Gazeta do Povo redobrada bem nos classificados de automóveis. Mesmo um pouco sonolento, é atraído pelo leiaute do 6x18 que se destaca da poluição gráfica da página.

Um décimo de milésimo de segundo depois, é nocauteado pela genialidade do título. Procura pela assinatura da agência no canto do anúncio (viu como é importante assinar todos anúncios?), a viagem a Curitiba já valeu a pena, pensa. Nem se lembra mais o que veio fazer na cidade, seu faro profissional acaba de descobir mais dois novos talentos.

Então você revoltado com o computador obsoleto - que o financeiro insiste em dizer que: pra redator está mais que bom - de repente recebe uma ligação. A recepcionista anuncia: tem um tal de Nizão, Nição, alguma coisa assim, pra você. Você conclui: só está no emprego porque é gostosinha, deve ser sacanagem de alguém, suspeita. Quase que você é engando pelo sotaque bahiano. Não, não pode ser. Será?

Confesso que mesmo para as sutilezas criativas do destino, esse é um roteiro meio improvável. No entanto, há dois anos, quem diria que o PT faria um presidente e, mais surpreendente, que mesmo assim pouca coisa mudaria na nossa vida e muito menos na vida dos humildes. E menos ainda na rotina dos poderosos.

Toda época é boa pra pirar, mas a mistura de Chester, tender, peru, pernil abacaxi, uva, panetone, passas, farofa doce, farofa salgada, arroz, lentilha, nozes, castanhas, figos, pêssegos, avelãs, cerveja, champagne, whiskey, vinho tinto, branco, seco, suave, rose, frizante, coca cola, fanta uva, guaraná Antártica, garaná Bhrama, vodka - de repente, até uma cachacinha de barrica pra não negar a origem humilde - e um licorzinho, por que não?

Tudo isso deve provocar uma intoxicação alucinógena, semelhante ao Peiote ou ao Santo Daime, que afasta a alma da nostagia e das contradições depressivas dessas Festas nos elevando às esferas mais inconseqüentes: onde o delírio é normal e o insólito esperado.

Dois mil e quatro, lá vamos nós sobre nossas pernas, mantidos em pé pelos fios mágicos dos sonhos que sustentam nossas cabeças mais altas que os ombros.
Guiados pela voz muda da natureza e todas essas coisas que a gente fala nessa época.

Bons negócios, grandes sonhos, prêmios, muitos prêmios a todos.
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