O importante é não colocar muita pressão

Mais vale o que se aprende, do que o que te ensinam.
Este é o título de um conhecido livro de Alex Periscinoto, onde ele relembra a sua descoberta do mundo da propaganda.

Neste clássico sobre a matéria, Periscinoto mostra o começo da profissionalização da propaganda brasileira. Relata suas lições com gandes nomes da publicidade americana, apresenta cases importantes e expõe muitas das suas idéias e conceitos sobre a profissão.
A simples compreensão sobre o sentido do título, já equivale a muitos livros. Sua leitura então, pode poupar muito tempo para quem está começando e evitando algumas frustrações decorrentes de uma visão às vezes meio deslumbrada.

Quem sabe até, consiga evitar alguns cortes com estiletes. Batismo oficial de estagiários.
Só de pensar, dá arrepios. O segredo está em não colocar muita força e passar o estilete várias vezes, com suavidade, até o papel cortado se separar. Simples.

Mas, na hora do pega pra capar, o futuro Marcelo Serpa se esquece e zapt!, a lâmina sobe sobre a régua e encontra a ponta de um dedo gordinho. Tá feito o estrago: sangue, algodão. Leva para o Pronto Socorro. Pode dar tétano. Ainda bem que não manchou o lay out.
Felizmente, na maioria dos casos, uma ida à farmácia basta. Acho que de risco físico, nesta profissão, este é o pior que pode ocorrer, o que não é pouco.

Mas voltando, - foi só um susto, antes de casar sara - acho que nenhuma outra atividade oferece tantas oportunidades de aprendizado por centímetro/coluna como a propaganda.
E nenhuma área, é mais rica que a criação para os espíritos ávidos.

As primeiras lições, são de ordem bastante prática. Por exemplo: aprende-se de cara que na criação sempre há mais bundas que cadeiras, menos computadores que usuários, mais jobs que tempo e mais Mac Donalds que Mangiare Felice.

Descolada uma cadeira e ocupado um cantinho, começa o verdadeiro aprendizado.
Percebemos que aquela história de oitenta por cento de transpiração e vinte por cento de inspiração, provavelmente foi aplicada com o objetivo de motivar o pessoal, fazendo-o acreditar que, pelo menos uma pequena porcentagem do seu trabalho, teria origem na sua cigarra interior.

Para a frustração deste lado romântico, no primeiro job descobre-se que a propaganda é cem por cento de transpiração, trabalho de suadas e compulsivas formiguinhas.
Neste início aprende-se muito sobre dedicação e equipe. A seguir, virão as lições sobre performance e talento. Com o passar do tempo, começa-se a lidar com a pasta, com os prêmios e com o dinheiro, é claro. Algumas agências depois, aprende-se sobre sorte, caráter e amizades. Passam-se os anos, é hora de perceber qual job vale o stress, o que levar a sério e o que ignorar.

Nessas alturas, começamos a esquecer as primeiras lições. Temos então que fazer uma revisão sobre humildade, gratidão e reconhecimento. O importante é não colocar muita pressão sobre o estilete. Passar várias vezes, mas com suavidade, até que o papel cortado se separe.


Dezembo de 2001
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