Aspirina ética

ASPIRINA ÉTICA

Não sei se por sorte ou azar, nunca participei de nenhuma campanha eleitoral durante meu tempo de propaganda. Guardo isso com um misto de orgulho e frustração de solteirona, que venera e amaldiçoa a virgindade preservada.
O mais próximo que estive da disputa eleitoral foi um free para a Expressão, encomendado ou oferecido, quem sabe, ao então prefeito de São Paulo, Mário Covas que, na época, pretendia concorrer a reeleição da capital paulista.
Quis menos o destino e mais a conjuntura, que o projeto do finado político santista desandasse por conta das manobras do Congresso, que impediu a reeleição de prefeitos - não me recordo se apenas das capitais ou da totalidade dos municípios, não importa. O fato é que a canditatura não saiu e o meu trabalho se resumiu àquele job. Não posso reclamar, o dinheiro veio em boa hora, como sempre e, pontualmente, o que nem sempre acontece.

Nessa ocasião, surpreendendo a política paulistana e estarrecendo as pessoas sensatas, elegeu-se o sinistro Jânio Quadros. A propósito, nessa eleição o Professor Maluquinho, deu um histórico cacete no Menino de Sorbone, que anos mais tarde, partindo para a forra, se tornaria o nosso acadêmico estadista, mentor do Real e do imaginário.

Lembro-me, na época, que o pessoal do já ganhou de Fernando Henrique, ficou com cara de bunda por mais de uma semana. Virada semelhante foi reprisada no mandato seguinte, na disputa entre Maluf e Erundina, que decidiu-se nas 24 horas anteriores à eleição. Com a diferença que o pessoal do Maluf, mais acostumado ao gosto amargo da derrota, ficou com a cara de sempre.

Mas, se a vida um dia colocar esse tipo de missão no meu caminho, espero que exista alguma afinidade ideológica, que não seja só pelo dinheiro. Não por rigor ético, mas porque deve ser mais produtivo.

Por natureza, não sei se possuo o profissionalismo extremado dos chamados marqueteiros políticos, capazes de atender sem distinção à direita e à esquerda, se é que essa divisão diz alguma coisa hoje em dia. Pra mim, a preferência política tem muito de afetividade, de identificação subjetiva, seja para a aprovação ou rejeição. É meio como torcer por time, embora o sofrimento possa ser bem maior. Quer dizer, depende do time ou do canditado.

Uma vez a questão me foi colocada da seguinte forma, por um profissional que na época tinha seu soldo pago por um canditato a Deputado Federal: se em vez de publicitários fôssemos médicos, receberíamos da mesma forma aos Lulas, Garotinhos, Serras ou Ciros. Se advogados, da mesma forma, todos seriam atendidos, talvez de alguns fosse exigido pagamento antecipado, mas a diferenciação não iria muito além.
Aos que estão trabalhando na comunicação para as próximas eleições recomendo, se preciso, recorrer a essa simplificação como uma aspirina ética. Não posso receitá-la cegamente, mas acho que funciona.
Se os sintomas persistirem, procurem um outro candidato.

Julho de 2002
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