Dando nomes aos jobs

Dando nomes aos jobs.

Cinco horas, entra na criação o homem de atendimento impecavelmente trajado no estilo casual, opcional/obrigatório para esse dia da semana. Carrega uma folha de papel e um sorriso incontido de Mona Lisa.

Job pra segunda, foi-se o fim de semana, penso. Entretanto, nosso solidário profissional de atendimento quer apenas animar nosso tedioso fim de tarde com uma lista de apelidos para cheques sem fundo que ele achou na internet. Ufa! Que susto. Por um momento tive a certeza de tratar-se de um Job Parente do Interior ( Chega na sexta à tarde e vai na segunda de manhã ).

Ao mesmo tempo em que me senti aliviado por ter preservado o fim de semana, confesso que fiquei preocupado diante da possibilidade de estar me tornando um daqueles profissionais neuróticos para os quais só existem Jobs Galvão Bueno ( Tem que ser com sofrimento ).

Também em se tratanto do nosso competitivo atendimento, até que a minha reação não foi de todo paranóica, uma vez que o moço já foi até apelidado de Frente Fria, por causa dos inúmeros feriados que estragou.

Tudo bem, devo-lhe desculpas. Além do mais ninguém pode dizer nada contra seu profissionalismo. É do tipo que pensa 24 horas no seu cliente, é verdade que de vez em quando pensa como o cliente, mas é só às vezes, sob pressão. A gente dá um desconto.
Complicado mesmo é corresponder àquele atendimento que se caracteriza pela falta de informação nos seus pedidos de trabalho. Só entra na criação com Jobs Cazuza ( O nosso briefing a gente inventa, a gente inventa ) e Jobs Pastel de Queijo ( Não tem nada dentro).
Existe também o inverso desse estilo: aquele que passa uma semana juntando informações anexando pesquisas, clipings, trabalho da concorrência e outras coisas que a gente nunca vai ter tempo de ler. Esses autos constumam entrar na criação em duas viagens quando não há ninguém para ajudar a carregá-los e o seu tipo foi batizado, por um soturno redator, como Job Kafka ( Parece o Processo ). Já foi também chamado de Job Kenneth Branagh ( Muito Barulho por Nada ). Achei maldade.

Uma vez que entramos nos clássicos, me lembrei que, todo o começo de ano, quando as coisas ainda estão meio paradas, costuma aparecer um tipo de job nebuloso. Uns empressários ligados a um grupo multinacional, que não se sabe bem porque, acabaram aproximando-se da agência. Resumindo: depois de umas duas reuniões adendra solene à criação o job, repleto de urgência é claro, um legítimo Job Shakespeare ( Sonho de Uma Noite de Verão ).

É meus amigos, na nossa atividade nem todos são Jobs CUT ( Noventa dias de estabilidade de emprego ) ou Jobs Igreja Universal (A Salvação da agência ). O nosso dia-a-dia normalmente é feito de Jobs Jornal Nacional ( Para o começo da noite ) e Jobs Bom Dia Brasil ( Para primeira hora da manhã ).
Mas entre um Job Trem das Onze ( Não posso ficar nem mais um minuto com você ) e um Compras no Paraguai ( Bate e volta ) arrumamos tempo para fazer um Job A Banda ( Só para inscrever em festival ) ou um Escoteiro ( Para ganhar uma medalha ).
E assim são nossos Jobs: intermináveis, urgentes, porém, nomináveis. Ainda bem. Com um apelido eles ficam mais leves, íntimos até.

Bom, diante dessa tarde surpreendentemente tranqüila, a remota possiblidade do choop começa a ganhar consistência de realidade. Isso se não entrar nenhum Job Adoniran Barbosa (Se você pensa que nóis fumus imbora. Nóis inganamo vocês. Fingimos que fumus e vortemos. Ói nóis aqui tra veis ), é claro.

Maio de 2001
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