A criação nos tempos da crise

Não vamos discutir o sexo da crise, nem tão pouco se ela existe como evento econômico real ou se é mais uma conspiração dos donos do mundo. Quem sabe seja a danada apenas o resultado das molecagens financeiras convenientemente referendadas pelos palhaços globais. Entretanto, especulações só pioram as coisas, até porque numa área em que tantos experts falharam, quem somos nós para ousar uma explicação?

Mas, tal qual os duendes, você não precisa acreditar, mas que eles existem, existem.

McCann, DM9 e Eugênio dispensaram antes do final do ano passado. E, apesar de serem agências importantes, as suas demissões não devem ser vistas como um indicativo de baixo astral à vista. Porém, mais do que o ajuste inevitável a um novo desenho econômico, o que devemos temer, enquanto profissionais de criação, são as coisas malucas que se farão em nome da crise.

Por isso, além de não contrair dívidas de longo prazo, é prudente iniciar alguma atividade que promova o equilíbrio e expanda a nossa tolerância emocional, como Ioga, Tai Chi Chuan ou reuniões da Amway. Além disso, não vá trabalhar sem o tradicional raminho de arruda e um protetor bucal daqueles de boxe ou artes marciais.

E, já que vamos levar porrada, se soubermos em que parte seremos mais golpeados pode ser que doa menos.

Cinco dicas para criar na crise:

- Se em tempos de demanda reprimida o cliente já pedia para aumentar a marca, agora é recomendado reservar pelo menos um quarto do espaço disponível para a assinatura. Isso não vai impedir que a solicitação não ocorra, mas pelo menos você ainda terá três quartos do seu espaço para fazer média com o freguês.

- Mesmo com as circulares da administração, solicitando o uso racional do Xerox, você vai ter que dobrar o número de opções apresentadas. As melhores, tal como nos bons tempos, continuarão indo para o lixo. Em compensação, pense bem antes de rasgar as mais fraquinhas. Agora, além de ter mais chance de aprovação, o seu aproveitamento vai contribuir para manter o bom relacionamento com o administrativo.

- Os briefings estabelecerão índices olímpicos para os seus objetivos e verbas franciscanas para sua realização. Expressões como “desafio”, “oportunidade”, “grande chance”, “bom trabalho”, estarão cada vez mais presentes para nos motivar nesse momento difícil. Todas seguidas de triplos pontos de exclamação. E, para finalizar, a sincera expressão de comprometimento e solidariedade: “Qualquer dúvida estou à disposição.” Infelizmente, as informações básicas terão que ser levantadas e/ou adivinhadas pela criação.

- Ainda assim, nunca desista da ideia, porque mesmo na crise nem todo mundo fica burro. E boas ideias sempre fazem bem para quem as têm e, invariavelmente, dão resultado para quem as aproveita. Desnecessário explicar como isso é vital em dias cinzentos.

- E, se apesar de grampear o tapete sob sua cadeira, você tomar um pé na bunda, siga em frente. Arrume a pasta, matricule-se num curso de inglês, tome um porre, faça uns frilas, conheça umas minas. O mundo sempre vai precisar de profissionais de criação. Outro dia, um redator de uma conhecida agência paulistana me confessou: “Sabe que quase todas as agências em que trabalhei não existem mais.” Confesso que não entendi bem o que ele quis dizer com isso, mas na hora fez o maior sentido.
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