Corações e mentes

Como a maioria dos publicitários da minha geração passei muito tempo em botecos de níveis variados reformulando o mundo, o cinema, a política e, principalmente, a propaganda. Evidentemente, toda essa pauta não passava de uma boa desculpa para se beber algumas Antarticas estupidamente geladas. Ritual sagrado e diário que transmutava todas as pressões e sacanagens em gargalhadas, confissões e teorias malucas que na hora faziam o maior sentido.

Essa mesma geração assistiu ao fim do vinil e das suas capas memoráveis, como a do album Abbey Road dos Beatles que está fazendo 40 anos, agora, em agosto. Também despediu-se da máquina de escrever, que era uma espécie de brinquedo para adultos com muitas alavancas, roldanas e ruídos. E que, apesar dessa simplicidade mecânica, imprimiu muitas grandes idéias durante mais de um século.

Falando em grandes idéias, vimos também o fim do fusca, bugiganga feita como encomenda para o III Reich e que sobreviveu à queda do Fuher, fez história na propaganda na DDB dos anos 60, e foi fabricado no Brasil até 1996, graças a uma solicitação do nostálgico Itamar Franco.

Mas voltando a cervejinha. Hoje em dia, acompanhando as notícias sobre os programas de fidelizacão da AmBev, que geraram multas recordes aplicadas pelo CADE, e as discussões entre ABRABE e AmBev, que envolvem o uso da garrafa retornável, só podemos concluir que também estamos assistindo ao fim da construção de marcas pela via da comunicação.

Ao se permitir que os maiores nomes da indústria cervejeira do país se agrupassem em uma só companhia - hoje, feliz detentora de 68,3% de share, segundo dados Nielsen, é natural que a distribuição se tornasse muito mais importante que a comunicação das marcas.

Só que no front dos pontos de venda, a guerra é muito mais sangrenta do que no universo autorregulamentado e altamente monitorado da propaganda.

O problema é que esse território de prateleira, ou melhor, de geladeira, conquistado apenas com o poder de fogo da Sétima Frota da AmBev, não pode ser mantido sem a ocupação dos corações e mentes dos consumidores pela boa e velha propaganda.

Aí é que generais de gabinete têm que chamar os Rambos Fernandes…

Mas isso já é conversa de boteco.

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