Provavelmente,
eu tenha mais tempo de LinkedIn do que a experiência inserida em grande parte
dos currículos abrigados na rede. Só para ter uma ideia, meu login é feito a
partir de uma caixa postal do antigo Hotmail. Se você é millenial, talvez apenas
tenha ouvido falar desse pioneiro serviço de e-mail.
A verdade, preciso
confessar, é que nunca dei a devida atenção aos detalhes do meu perfil. Durante
esses anos, lembro-me de qualificar e ser qualificado por colegas e,
eventualmente, nos momentos de extremo desencanto profissional, acessado a timeline
à procura de novas conexões e oportunidades. Fiz como o católico que, depois da
primeira comunhão, só vai à igreja em batizados, casamentos e missas de sétimo
dia.
Porém, nada
como os invisíveis mecanismos do mercado – que podem assumir nomes diferentes -
para mostrar e fornecer os upgrades necessários ao nosso crescimento pessoal e
profissional. E foi assim que, depois de um recorde na carreira: sete anos em
uma mesma agência, saí por conta de uma reorientação estratégica, com os
tradicionais agradecimentos e promessas de portas sempre abertas.
Back to
LinkedIn.
Foi o meu
post no Facebook, em letras grandes, não naqueles quadrados coloridos, porque
não os achei suficientemente solenes para a ocasião. Obtive likes solidários e
emojis de apoio, e foi uma forma de sinalizar minha posição de maneira clara e
sem muito drama.
Mãos à
obra: acessei meu perfil com a pré-histórica conta do Hotmail e comecei a
atualizar as informações. Fiz um texto de apresentação (que acho dá para
melhorar), anexei um Resume, citei premiações. Até coloquei um fundo personalizado.
Tudo preenchido, recebi o feedback da ferramenta: Seu perfil ficou ótimo - isso me deixou feliz como receber elogio de
professora na lição de casa.
Faltava dar
aquele ajuste fino, começando pelo Título
profissional, que aparece logo abaixo do nome. Afinal, depois de
experiências em quase todas as áreas e formatos de agências, precisava
encontrar uma descrição mais completa e, ao mesmo tempo, elegante, persuasiva e
verdadeira.
Foi aí,
procurando referências na web, que percebi que os profissionais da área, talvez
inspirados nos primos cool de tecnologia, estão construindo um universo de
significados que beira à esquizofrenia. Fui encontrando pelo caminho: creative,
strategy, innovation, director, consultant, inspiring, storyteller, thinker, samurai,
hunter, insight, freak, guru, specialist. Tudo isso combinado de diversas maneiras, às vezes, formando descrições
delirantes, como: “Insight Guru and Inspiring Consultant Chief”.
Diante disso, resisti
à tentação de escrever: “LSD Lysergic
Solution Designer” e, sem querer
parecer radicalmente old school, simplifiquei: Redator, anotei – depois
penso em algo mais contemporâneo.