Para quem acha que é fácil.

Para cada crônica que faço - embora minhas crônicas dêem uma impressão de facilidade -, é como se eu fosse obrigado a levantar um Jumbo.

Às vezes , tento ler um jornal, pra ver se aquele jornal me dá alguma ideia. Mas, em geral, ele não me dá ideia nenhuma.

Muitas vezes, para começar uma crônica, abro o computador e elho para a tela. E a tela não me diz nada, nada, nada. Então escrevo escrevo uma coisa qualquer. Por exemplo; “ E a roda rodou imunda e grossa”. É um verso do Fernando Pessoa. “E a roda rodou umunda e grossa.” Escrevo essa frase e fico olhando para ela. “E a roda rodou imunda e grossa.” E dali nnao sai nada.

Mas botar o dedo na tecla e fazer aprecer aquelas letras na tela é um começo. É como aquelas sereias do Ulisses. O Ulisses estava passando pelo Adriático e, como as sereias cantavam, precisou se amarrar no mastro do navio, para não se atirar nas àguas.

Então, aquelas letras ficam ali: “ E a roda rodou imunda e grossa”. São as sereias. Ela ficam cantando. Letras, letras, letras. E por aí vai. Só que eu não me amarro no mastro, não. Eu vou e sai a crônica.

Carlos Heitor Cony no Paiol Literário.

Estraído do Jornal Rascunho de setembro de 2009 - www.rascunho.com.br

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