A propaganda nos tempos da dengue

A propaganda, filha mais que prodiga do capitalismo de mercado, acaba nos conduzindo a um mundo muito distante da realidade tropical, violenta e carente, na qual vivem os milhões de consumidores que, com as suas bolsas famílias e subempregos, produzem os números animadores do mercado que, afinal, fazem girar a engrenagem capitalista. Por isso, é preciso sempre lembrar que, além dos sets de filmagem e das salas de reunião, existe a verdade de um Brasil que photoshop nenhum dá jeito, mas que ainda assim nos diz respeito.

É preciso não esquecer em que hemisfério do globo a gente vive, para onde produzimos e para quem pagamos nossos impostos. Pois, muitas vezes, com os vidros fechados e o ar condicionado ligado, parece até possível mudar de canal e fazer desaparecer o malabarista da frente do carro. Porém, a toda hora, uma nova catástrofe àerea, social ou política, invariavelmente, nos lembrará nosso destino de degredado, nossa natureza de bandeirante e nossa alienação de colônia.

Quando confrontada com a precaridade social e a fragilidade estrutural brasileira, a nossa rotina de páginas duplas e pré-produções ganha ares de corte hi-tech. Por isso não é a toa que os nomes mais destacados da profissão tenham status de celebridade.

Felizmente, para alívio da nossa consciência e bem da comunidade, a propaganda sempre será convocada a prestar seus serviços às grandes questões sanitárias nacionais. E, dentro das limitações dos interesses políticos, até que produz bastante resultado. Não usá-la, seria só mais uma omissão, como deixar água estagnada no próprio quintal.

Enquanto o job não vem, só resta elaborar esse sentimento estranho. E, quem sabe, transformá-lo numa idéia que sirva para alguma coisa ou para alguma causa.
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