A propaganda nos tempos da dengue

A propaganda, filha mais que prodiga do capitalismo de mercado, acaba nos conduzindo a um mundo muito distante da realidade tropical, violenta e carente, na qual vivem os milhões de consumidores que, com as suas bolsas famílias e subempregos, produzem os números animadores do mercado que, afinal, fazem girar a engrenagem capitalista. Por isso, é preciso sempre lembrar que, além dos sets de filmagem e das salas de reunião, existe a verdade de um Brasil que photoshop nenhum dá jeito, mas que ainda assim nos diz respeito.

É preciso não esquecer em que hemisfério do globo a gente vive, para onde produzimos e para quem pagamos nossos impostos. Pois, muitas vezes, com os vidros fechados e o ar condicionado ligado, parece até possível mudar de canal e fazer desaparecer o malabarista da frente do carro. Porém, a toda hora, uma nova catástrofe àerea, social ou política, invariavelmente, nos lembrará nosso destino de degredado, nossa natureza de bandeirante e nossa alienação de colônia.

Quando confrontada com a precaridade social e a fragilidade estrutural brasileira, a nossa rotina de páginas duplas e pré-produções ganha ares de corte hi-tech. Por isso não é a toa que os nomes mais destacados da profissão tenham status de celebridade.

Felizmente, para alívio da nossa consciência e bem da comunidade, a propaganda sempre será convocada a prestar seus serviços às grandes questões sanitárias nacionais. E, dentro das limitações dos interesses políticos, até que produz bastante resultado. Não usá-la, seria só mais uma omissão, como deixar água estagnada no próprio quintal.

Enquanto o job não vem, só resta elaborar esse sentimento estranho. E, quem sabe, transformá-lo numa idéia que sirva para alguma coisa ou para alguma causa.

Nóis viemo aqui pra beber ou pra conversá?

No começo da década de setenta, uns dois ou três anos após a conquista definitiva da taça Jules Rimet, o Brasil vivia os momentos mais sombrios da ditadura ao mesmo tempo em que usufruia as delícias de um fugaz aquecimento econômico. Nesses idos, a classe média, esquizofrênica e alienada por natureza, convivia bem com a repressão política e a satisfação econômica. E, infantilizada, sentava-se à frente da TV para assistir à Selva de Pedra, novela de Janete Clair, que ia ao ar pontualmete às 8 da noite.

E aqueles que não se levantaram para o xixi, quase obrigatório no primeiro intervalo, provavelmente assistiram a um comercial da cerveja Antartica, que se passava numa praça típica de cidadezinha do interior. No filme, um político faz um discurso de inauguração de um monumento público, que está apropriadamente coberto por um pano. A multidão está visivelmente entediada com o seu palavrório sem fim, de repente a estátua, iterpretada por Adoniran Barbosa, se despe do pano e interroga solene: “Nóis viemo aqui pra bebê ou pra conversá?” O comercial foi criado na Almap pelo Arapuã e dirigido pelo Júlio Xavier.

Mudaram os tempos, a sociedade e, principalmente, as indústrias de cervejas, que hoje representam uma fatia bem mais barrigudinha na publicidade do que nos tempos dos generais. No entanto é hoje, nessa atmosfera aparentemente liberal, que o segmento de bebidas alcoólicas observa o animado bar da sua comunicação virar as cadeiras sobre as mesas, ameaçando acabar com a festa. E parece que o risco de fechamendo do boteco é uma ameça real . Tanto é que, nesse fim de semana, a Associação Brasileira de Agências de Propaganda, começa a manisfestar a sua opinião numa campanha criada pela F/Nazca, que será veiculada em TV, rádio e mídia impressa.

A indústria da propaganda, mais uma vez, se vê numa posição delicada e sem uma defesa consistente para encarar a enxurrada de argumentos que, bem intencionados ou não, possuem a procuração da moral e dos bons costumes que sempre será utilizada nas ações contra a publicidade. Será que é hora de chamar a saideira? Provavelmente ainda não, mas seria bom aproveitar para e pensar um pouco sobre o assunto.

Para começar, era meio que esperado que, após as restrições à publicidade de cigarro, a bola da vez seria a birita, por motivos que vão do oportunismo político à honesta preocupação sanitária. Além disso, o nível de exposição que as marcas de cerveja tiveram na mídia nos últimos anos, somado ao seu conteúdo exuberante, fatalmente tinham que atrair os olhares censores de todas as entidades que lidam seriamente com os problemas provenientes do consumo de bebidas alcoólicas. Seria ingênuo imaginar que a opinião pública não manifestasse o seu desconforto ao contrapor o número de alcoolizados mortos, feridos e dependentes, com os inebriantes comerciais de cerveja.

Que sirva de lição, em um país onde a legislação a respeito do consumo de bebidas alcoólicas é simplesmente ignorada, sempre será mais fácil censurar a propaganda , por fazer exatamente o seu trabalho de estimular o consumo, do que envolver-se diretamente com a ineficiência dos serviços públicos, incapazes de fiscalizar e punir as contravenções. Acontece que existe um descompasso entre a propaganda que se produz no Brasil e a sociedade que o Brasil tem produzido. O anunciante nunca deixará de assumir a sua responsabilidade na vida da comunidade pois sabe que o preço de uma ação equivocada fatalmente será pago pela marca que sempre assina embaixo. Entretanto, numa sociedade desigual, injusta e mal formada, que vive em metrópoles urbanamente degeneradas, do ponto de vista da justiça social, qualquer comercial pode ser rotulado de obceno e qualquer incentivo ao consumo soar de mau gosto.

Me diz que eu sou seu tipo

Era uma vez um título à procura de um tipo. Depois de um parto tão difícil, achava que não deveria contentar-se com tipo qualquer, desses que você encontra em qualquer cardápio de pizzaria ou imã de geladeira.

Também não queria algo clássico demais, cara de jornal inglês, com aquelas serifas todas. Além disso, ainda permanecia indeciso entre a caixa alta e baixa. Não, ele não era como certas idéias que surgem com a tipologia definida, como pessoas que nascem com cara de Henrique, de Flávio, de Júlia. Desde o primeiro ultrasom, antes mesmo do sexo, já têm as caras dos nomes. Às vezes, pensava, talvez fosse melhor ter sido criado para uma marca suíça com guideline, tipologia, cores e aplicações definidas - Univers Bold para o título, Times para o texto e está acabado. Não tem que pensar, é obedecer. Nem tem que criar é só seguir. Infelizmente, não era esse o seu caso.

No auge da sua angústia, tentava se convencer que um tipo não muda o sentido de um título, Think Small é Think Small em Futura, Franklin ou Bodoni, dizia para si mesmo, e também ele não era nenhum Think Small, concluia. Era honesto, original, verdadeiro e vendedor, que mais um título pode aspirar na sua efêmera permanência em uma página mal negociada de uma revista semanal.

Medalha, medalha, medalha.

Estão abertas as inscrições para o VIII Prêmio Colunistas Promoção Paraná. Podem concorrer cases, ações e materiais de marketing promocional, marketing direto e design promocional realizados por empresas paranaenses durante 2007.
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